No Brasil, mais de 10 mil mortes anuais são causadas por doenças negligenciadas, como doença de Chagas, dengue e leishmaniose. Essas enfermidades, que afetam predominantemente populações vulneráveis em áreas de pobreza, representam um grave problema de saúde pública agravado pela escassez de investimentos e pela fragilidade dos sistemas de vigilância.

Nesse cenário, a enfermagem emerge como força transformadora, atuando na linha de frente da prevenção, educação comunitária e cuidado integral. Ao longo deste artigo, vamos falar sobre o papel estratégico desses profissionais no combate a essas doenças, destacando caminhos para especialização e impactos na saúde coletiva.

 

O que são doenças negligenciadas?

Pessoa doente deitada na cama usando lenço de papel, simbolizando o impacto das doenças negligenciadas

As doenças negligenciadas são um grupo de infecções tropicais endêmicas que afetam principalmente países pobres, onde as condições de vida dificultam a prevenção e o tratamento adequado. Sua alta prevalência está diretamente ligada à falta de saneamento básico e ao acesso limitado à saúde, criando um ambiente favorável à disseminação dessas enfermidades.

Apesar de sua gravidade, essas doenças recebem pouco investimento da indústria farmacêutica, refletindo na escassez de pesquisas, diagnósticos e medicamentos específicos.

O impacto social é profundo, pois além de comprometer a qualidade de vida das populações afetadas, perpetuam ciclos de pobreza e incapacidade laboral, resultando em um alto número de óbitos anuais em escala global.

No Brasil, essas doenças atingem desproporcionalmente comunidades rurais, periferias urbanas e populações indígenas, onde a falta de água potável e as condições de moradia precárias favorecem sua propagação.

“As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) estão enraizadas nos antecedentes de pobreza e de desigualdade.”

BVS/MS — link

 
 

Quais as 17 doenças negligenciadas na enfermagem?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece mais de 20 doenças negligenciadas. Entre as mais relevantes para a enfermagem no Brasil, destacam-se:

  • Malária (principalmente na Amazônia);
  • Filariose linfática (elefantíase);
  • Doença de Chagas;
  • Esquistossomose;
  • Úlcera de Buruli;
  • Leishmaniose;
  • Helmintíases;
  • Tuberculose;
  • Hanseníase;
  • Tracoma;
  • Dengue;
  • Bouba.

Essas doenças compartilham características como transmissão por vetores (mosquitos, caramujos) e alta taxa de complicações incapacitantes quando não tratadas precocemente.

“Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1,7 bilhão de pessoas no mundo podem estar sob risco das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), com a ocorrência de 200 mil mortes por ano.”

Ministério da Saúde — link

Mulher deitada com febre segurando o celular, representando adoecimento por doenças infecciosasPor que essas doenças são negligenciadas?

A negligência em relação às doenças tropicais é resultado de diversos fatores interligados que dificultam o avanço das políticas de prevenção e tratamento. No aspecto econômico, as populações afetadas possuem baixo poder aquisitivo, o que reduz o interesse da indústria farmacêutica em investir em inovação para essas enfermidades.

Além disso, há uma fragilidade sistêmica, já que os sistemas de saúde em regiões endêmicas enfrentam limitações estruturais e escassez de recursos para vigilância ativa e diagnóstico precoce, dificultando o controle efetivo das doenças.

O estigma social também agrava a situação, pois enfermidades como hanseníase e tuberculose frequentemente levam ao isolamento dos pacientes, que muitas vezes escondem sintomas por receio de discriminação.

Outro desafio crítico é a concorrência de prioridades, já que crises sanitárias globais, como a pandemia de COVID-19, desviaram investimentos e interromperam programas essenciais de controle de doenças negligenciadas.

O impacto desse cenário é evidente no baixo financiamento para inovação em saúde, com pouquíssimos recursos globais destinados a doenças como doença do sono e leishmaniose visceral, que continuam afetando milhares de pessoas em países em desenvolvimento.

Leia mais: Desafios da Pediatria em Regiões Carentes: Como superar a falta de recursos?

 

O papel da enfermagem na prevenção de doenças negligenciadas

Profissional de enfermagem apoiando paciente em tratamento, com frascos de medicamentos ao lado

A atuação da enfermagem vai muito além do cuidado clínico, abrangendo estratégias fundamentais de prevenção e promoção da saúde em diversas comunidades.

Na educação em saúde comunitária, profissionais organizam palestras sobre higiene, uso de repelentes e armazenamento seguro de água, garantindo que as informações sejam acessíveis e adaptadas às realidades culturais locais.

A vigilância ativa e o diagnóstico precoce também são pilares essenciais da atuação da enfermagem, com iniciativas de busca ativa de sintomáticos em áreas remotas e a coleta de exames laboratoriais, como o teste de gota espessa para a detecção de malária.

No acompanhamento terapêutico, desempenham um papel central na supervisão do tratamento diretamente observado (TDO), essencial para garantir a adesão de pacientes com tuberculose e hanseníase, prevenindo abandonos e interrupções no tratamento.

A enfermagem também tem um papel ativo na advocacia em saúde, articulando com gestores públicos para a ampliação do saneamento básico e participando de conselhos de saúde, garantindo que as prioridades das populações vulneráveis sejam consideradas nas políticas públicas.

Os impactos dessa atuação são mensuráveis e expressivos já que programas liderados por enfermeiros conseguem reduzir significativamente a transmissão de doenças. No Brasil, comunidades que recebem visitas regulares de enfermagem apresentam maior adesão ao uso de mosquiteiros impregnados, contribuindo diretamente para a redução da incidência de dengue.

Apesar dos avanços, desafios ainda persistem na prática da enfermagem. O acesso geográfico limita a atuação em comunidades ribeirinhas, o que demanda soluções como barcos de saúde equipados com testes rápidos.

A resistência cultural pode dificultar a aceitação de medidas preventivas, tornando essencial o diálogo com líderes comunitários e curandeiros tradicionais. Já a escassez de recursos, como a falta de EPIs em zonas rurais, exige a implementação de treinamentos adaptados, garantindo que os profissionais possam continuar atuando com segurança.

 

Eixos de atuação da enfermagem e resultados esperados

Eixo Ação destacada Resultado/Impacto
Educação comunitária Palestras sobre higiene, repelentes e água segura Informação acessível e adequada ao contexto local
Vigilância ativa Busca ativa e coleta (gota espessa para malária) Diagnóstico precoce e redução da transmissão
Acompanhamento terapêutico TDO em TB e hanseníase Maior adesão e prevenção de abandonos

Como se especializar?

A enfermagem é pilar indispensável no enfrentamento das doenças negligenciadas, combinando expertise técnica com proximidade comunitária. Seu papel na prevenção, traduzido em educação sanitária, diagnóstico precoce e advocacia da saúde, salva vidas e rompe ciclos de desigualdade.

A pós-graduação é essencial para capacitação técnica e gerencial na saúde. Áreas prioritárias incluem epidemiologia, gestão de programas públicos e educação popular.

Formações como a Pós-Graduação EAD em Enfermagem oferecem flexibilidade, enquanto uma Especialização em Enfermagem Tropical integra teoria e prática em regiões endêmicas.

Competências-chave incluem liderança comunitária, gestão de dados epidemiológicos e resiliência cultural, preparando profissionais para desafios diversos.

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FAQ

  1. Quais territórios exigem maior atenção?

    Regiões amazônicas, áreas rurais e periferias urbanas com saneamento precário e acesso limitado a serviços de saúde.

  2. Como fortalecer a adesão ao tratamento?

    Supervisão pelo TDO, educação contínua, visitas domiciliares e apoio para reduzir estigma e abandono.

  3. Qual trilha formativa recomendada?

    Pós-graduação em epidemiologia, gestão de programas públicos, enfermagem tropical e cursos EAD com prática em áreas endêmicas.

 

Referências

BVS/MS — Agir agora, agir juntos: investir em DTNs (30/01).

Ministério da Saúde — Boletim Epidemiológico: doenças negligenciadas no Brasil (jan/2024).

Agência Fiocruz — Doenças negligenciadas.

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