Imagine que você está viajando num pequeno avião no norte da África. Seu avião tem um problema e faz um pouso forçado no Saara, o maior deserto do mundo. Para sobreviver, você precisa encontrar alguns poucos oásis espalhados numa área gigantesca de mais de nove milhões de quilômetros quadrados. Consegue imaginar o tamanho do desafio?

Milhões de pessoas enfrentam um desafio semelhante quando se trata de encontrar alimentos nutritivos e baratos. Perdidos num imenso deserto de alimentos ultra processados, pouco saudáveis ou caros, muitas pessoas não têm acesso ao oásis alimentar dos supermercados ou feiras com alimentos frescos a um preço acessível.

 

É um exagero falar de Deserto Alimentar no Brasil?

Muitas pessoas pensam que sim, principalmente quando ouvem sobre o assunto pela primeira vez. Imaginam que Desertos Alimentares são comuns em países da África, em países superpopulosos, como Índia e Indonésia, ou extremamente pobres, como Moçambique e Somália.

No entanto, os desertos alimentares estão presentes até em países ricos e com grande produção de alimentos, como os Estados Unidos. Uma reportagem da BBC alertou sobre “Os 'desertos alimentares' dos EUA, que condenam 47 milhões de pessoas a comer pouco e mal”. 

A reportagem visitou Overtown, um dos bairros mais pobres da riquíssima Miami. Ali é difícil encontrar alimentos nutritivos. As prateleiras das lojinhas de esquina estão cheias de processados, refrigerantes, fast food, cerveja, tabaco e bilhetes de loteria. Quem quiser se alimentar com algo realmente saudável, como Zenaida Bonilla, mãe de quatro filhos, precisa se deslocar para outra região da cidade.

Acontece nos Estados Unidos e acontece no Brasil, talvez mais perto do que você imagina.

Como em quase todos os outros países, a ocorrência dos desertos alimentares no Brasil está associada à desigualdade social e segregação espacial. Ou seja, é muito menor a disponibilidade de frutas e hortaliças nas áreas de nível socioeconômico mais baixo; ao mesmo tempo, é grande a oferta de itens ultra processados, de baixa qualidade e ricos em sal, gordura e açúcares.

O problema é tão sério que a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social fez um estudo técnico em 2018 sobre o assunto. O Mapeamento dos Desertos Alimentares no Brasil identificou que o número de estabelecimentos que comercializam alimentos ultra processados e mistos é quase 5 vezes maior que aqueles que vendem alimentos in natura. O estudo mostrou também que à medida que a cidade cresce, aumenta o número de estabelecimentos de venda de ultra processados por habitante, ao tempo que diminui a densidade de estabelecimentos de venda de in natura e mistos.

 

Os prejuízos de quem vive num deserto alimentar

Quem vive num deserto alimentar tem grande chance de sofrer com graves prejuízos à saúde, já que a má nutrição contribui para o desenvolvimento de males como diabetes, hipertensão, obesidade e doenças cardiovasculares.

No caso das crianças, a ausência de alimentos saudáveis e in natura retardam o crescimento, podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro, interferir no aprendizado e enfraquecer o sistema imunológico.

O médico Armen Henderson, que trabalha no UHealth Tower Hospital e é pesquisador da Universidade de Miami, diz que “quem vive nos desertos alimentares corre o risco de desenvolver sérios problemas de saúde e morrer 15 anos mais cedo do que a média da população".

Como diz o projeto do Idec, Alimentando Políticas, “a alimentação saudável é condição intrínseca ao exercício da cidadania”. No entanto, de acordo com a pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, somente 10% dos brasileiros conseguiram atingir a meta diária de 400g de frutas e hortaliças - que é a recomendação mínima de consumo diário da OMS (Organização Mundial da Saúde).

São milhões de pessoas que não têm acesso diariamente a uma maçã, uma banana, uma cenoura, ¼ de uma cabeça de brócolis ou um tomate, por exemplo.

 

Como reconhecer um deserto alimentar?

“Deserto alimentar” é um termo que apareceu pela primeira vez em 1995 em um documento do departamento de Nutrição do governo escocês. Desde então, o termo passou a ser usado por acadêmicos, formuladores de políticas públicas e grupos comunitários para descrever áreas urbanas onde os moradores não têm acesso a uma dieta saudável.

A métrica mais conhecida para identificar um deserto alimentar considera os locais em que grupos de pelo menos 500 pessoas precisam se deslocar mais de 1,6 km para ter acesso a estabelecimentos de comida saudável e nutritiva, como hortifrutis e supermercados. Em áreas rurais, a distância é de 16 quilômetros.

O que pode ser feito para eliminar ou minimizar o impacto dos Desertos Alimentares?

O problema dos desertos alimentares é complexo e a solução difícil e multifatorial. Muitas coisas podem ser feitas, entre elas:

- Estimular o comércio de produtos in natura em pequenos estabelecimentos;

- Criar hortas comunitárias em espaços públicos;

- Oferecer produtos in natura na alimentação escolar e em restaurantes populares;

- Criar meios para que as feiras livres cheguem até os desertos alimentares.

- Capacitar profissionais para conscientizar a população acerca da importância de uma alimentação saudável, e de como criar hortas em pequenos espaços e aproveitar melhor os alimentos in natura.

 

Um dos profissionais mais importantes nesse contexto é o Nutricionista. Se você se interessa pelo assunto, conheça as especializações em Nutrição oferecidas pelo Centro Universitário São Camilo

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