Recentemente, uma influencer ganhou a atenção dos canais tradicionais de notícia depois de ser diagnosticada com Alzheimer aos 48 anos de idade. O caso chama atenção para o que um fato preocupante: a demência precoce está cada vez mais comum e atinge cada vez mais pessoas ao redor do mundo.

Segundo o Relatório Mundial sobre Alzheimer (ADI), em 2015 o mundo registrou cerca de 30,42 milhões de casos de Alzheimer. Em 2025, a estimativa é 35,75 milhões de diagnósticos. Já para 2050, a projeção é que 90 milhões de pessoas estarão sofrendo com algum nível da doença. 

Em 2021, 57 milhões de pessoas tinham demência em todo o mundo. Todos os anos, há quase 10 milhões de novos casos. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e pode representar de 60% a 70% dos casos. (World Health Organization)

Os fatores que explicam esse aumento expressivo estariam:

● no avanço da ciência;

● na criação de políticas públicas em geriatria; e

● no estresse que se tornou intrínseco ao estilo de vida contemporâneo.

Principalmente quando associados a hábitos prejudiciais à saúde que são cada vez mais comuns – como:

● sedentarismo;

● consumo de alimentos ultraprocessados;

● tabagismo, álcool;

● isolamento social; e

● privação de sono.

Nesse cenário, a importância de especialistas na área de fisioterapia neurofuncional adulta ganha um novo significado não apenas para lidar com os sinais clínicos, mas para prevenir o diagnóstico. 

Sessão de fisioterapia com bola terapêutica em paciente idoso com Alzheimer

O que é a Doença de Alzheimer?

Quais são os sintomas da doença de Alzheimer?

Como é a evolução do Alzheimer por fases?

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

Quais são os exames necessários para descartar ou confirmar o diagnóstico de demência por Alzheimer?

Como é a abordagem terapêutica de um paciente com a doença de Alzheimer?

Como está o campo de pesquisas clínicas para tratamentos farmacológicos de Alzheimer?

Quais são as principais frentes de pesquisa atualmente?

Como a fisioterapia neurológica adulta impacta na qualidade de vida de uma pessoa com Alzheimer?

Quais são os exercícios e objetivos da fisioterapia para pacientes em cada fase do Alzheimer?

Qual a eficácia da fisioterapia neurofuncional no tratamento de pacientes com demência degenerativa?

A Fisioterapia Neurológica é uma carreira promissora? Como me especializar?

 

O que é a Doença de Alzheimer?

Em 1906, um neurologista alemão estava acompanhando uma paciente de 51 anos que sofria com perda de memória severa, além de confusão mental e mudanças comportamentais. 

A mulher veio a óbito e seu cérebro - analisado pelo médico - revolucionou o entendimento científico sobre o funcionamento do cérebro e os cuidados com a saúde neural.

Na autópsia, foram encontrados sinais físicos que explicavam as complicações cognitivas:

placas senis (depósitos anormais e tóxicos de proteína que inflamam o tecido cerebral e causam a morte de neurônios);

emaranhados neurofibrilares (depósitos desorganizados e “enrolados” de proteína que se formam dentro dos neurônios e comprometem função e sobrevivência da célula).

Nasceu então uma nova condição clínica reconhecida pela comunidade científica e nomeada em homenagem ao profissional que a descobriu: a doença de Alzheimer. 

 

Quais são os sintomas da doença de Alzheimer?

Uma questão importante ao abordar os sinais clínicos relacionados ao Alzheimer é que eles progridem com o tempo, Existem três níveis identificados pela ciência: leve (no início da doença), moderado (a evolução ao longo do tempo) e Avançada (no fim da vida). A cada evolução, a doença aumenta seu impacto sobre a saúde e a qualidade de vida do paciente. 

Como é a evolução do Alzheimer por fases?

Inicial
(leve)
Intermediária
(moderada)
Avançada
(grave)
Perda de memória recente (esquecer informações novas); Desorientação no tempo e espaço; Fala incoerente ou ausente;
Dificuldade para encontrar palavras comuns; Esquecimento de eventos importantes da própria vida; Incapacidade de reconhecer familiares próximos;
Desorientação leve (confusão com datas e trajetos conhecidos); Repetição constante; Perda do controle motor (dificuldade para andar, sentar, engolir);
Apatia; Dificuldade em realizar atividades cotidianas (vestir-se, higiene pessoal); Incontinência urinária e fecal;
Alterações sutis de humor; Alterações de comportamento mais evidentes; Quedas frequentes;
Dificuldade em planejar, executar ou organizar (ex: pagar contas); Perda de controle de impulsos e emoções; Complicações clínicas associadas (infecções, desnutrição, rigidez muscular);

Infográfico em português com sete sintomas da Doença de Alzheimer: perda de memória, perda de objetos, desorientação temporal e espacial, problemas de fala, alterações visuais e insônia

Na fase inicial os sintomas são leves e difíceis de diagnosticar. Inclusive, se não forem realizados os devidos testes é fácil de ignorar ou confundir com sinais normais de envelhecimento. 

A fadiga mental também é um diagnóstico possível para esse quadro clínico. Além de outras possibilidades como o déficit de vitamina B12, problemas na tireóide, efeitos colaterais de medicamentos e o TDAH - como foi o caso da influencer cujo diagnóstico precoce iniciou esse texto.

O sinal de que o quadro precisa de mais atenção aparece com a percepção de que as memórias não retornam e os sintomas pioram com o tempo. Nessa etapa, é necessário realizar exames mais complexos para confirmar o diagnóstico.

 

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

A partir do momento que a doença neurodegenerativa passa a ser uma possibilidade se inicia uma investigação e essa, por sua vez, começa com o histórico familiar

O Alzheimer tem influência genética e casos anteriores na família podem ser significativos na identificação do quadro. No entanto, um caso inédito na família não exclui o diagnóstico

 

Quais são os exames necessários para descartar ou confirmar o diagnóstico de demência por Alzheimer?

A tabela a seguir compara exames que descartam outras causas de demência e exames específicos que indicam Alzheimer.

Exames que descartam outros fatores que causam demência

Exames que comprovem sinais fisiológicos do Alzheimer

Hemograma completo (Infecções, anemias, distúrbios hematológicos);

Ressonância magnética (atrofias cerebrais);

Função tireoidiana (Hipotireoidismo ou hipertireoidismo);

Eletroencefalograma (Atividades cerebrais anormais);

Glicemia e HbA1c (Diabetes e hipoglicemia crônica);

PET ou SPECT cerebral (Metabolismo cerebral, padrões sugestivos de Alzheimer);

Eletrólitos séricos (Distúrbios metabólicos);

Punção lombar (biomarcadores para Alzheimer como beta-amiloide e tau);

Vitamina B12 e ácido fólico (Deficiências vitamínicas);

Exames de sangue (biomarcadores plasmáticos para Alzheimer);

Sorologias (Infecções crônicas que podem afetar o sistema nervoso central);

Avaliação genética (predisposição à doença em casos hereditários – mutações em PSEN1, APP, APOE e4);

Se, no fim dessa bateria de exames, for confirmado o diagnóstico, então o tratamento tem início

 

Como é o tratamento de um paciente com a doença de Alzheimer?

O primeiro ponto a ser levantado no que se refere ao tratamento do Alzheimer é que ele não é feito com o objetivo de cura. Uma vez iniciada a neurodegeneração ela não pode ser parada ou revertida, apenas desacelerada. 

Tratar um paciente com essa doença se trata de melhorar a qualidade de vida. Para isso, são introduzidas

● terapias medicamentosas.

● terapias psicossociais; e, é claro,

● terapias fisioterapêuticas.

Do ponto de vista da farmacoterapia, os principais ativos são usados para inibir a quebra de Acetilcolina - um neurotransmissor fundamental às funções cognitivas. Logo, manter o nível de Acetilcolina estável ajuda na comunicação entre os neurônios que permanecem vivos e alivia os sintomas.

Essa ação não retarda a doença: os neurônios irão continuar a morrer e as proteínas já mencionadas continuam se acumulando em placas e causando danos cerebrais.

 

Como está o campo de pesquisas clínicas para tratamentos farmacológicos de Alzheimer?

O cenário descrito em tratamento é o que moveu a pesquisa científica na área de doenças por Alzheimer nas últimas décadas. Atualmente, no entanto, o foco mudou para modificar o curso da doença. 

Em laboratórios de todo o mundo, cientistas estão tentando interferir no acúmulo de proteínas, fator que é o principal vilão para pessoas com Alzheimer.

Em maio de 2024, havia um total de 3.388 ensaios clínicos sobre a doença de Alzheimer [...] ensaios de fase 1, fase 2, fase 3 e fase 4 iniciais sobre a desaceleração do declínio cognitivo. (Exploration of Neuroscience)

 

Quais são as principais frentes de pesquisa atualmente?

Imunoterapia: Uso se anticorpos para “limpar” o acúmulo de proteína. Alguns medicamentos já estão em testes clínicos com resultados promissores, mas eles ainda estão em testes quanto à sua real eficácia e sobre os efeitos colaterais severos – como edema cerebral – que podem causar.

Duas imunoterapias já foram aprovadas e comercializadas nos EUA. Uma teve a venda suspensa por baixa aceitação e polêmicas sobre os testes clínicos e a outra segue disponível, mas com um custo médio anual de 26 mil dólares por paciente e com risco de causar efeitos colaterais perigosos no cérebro.

Vacinas terapêuticas: uma das grandes apostas da indústria farmacêutica é treinar o próprio corpo para combater o acúmulo de proteínas que matam os neurônios. Para isso, fragmentos inofensivos dessas substâncias são introduzidos no paciente como um invasor que deve ser combatido.

Terapia genética: nesse tipo de terapia, o objetivo é modificar o comportamento dos genes dentro das células para que interrompam os processos que levam ao desenvolvimento da doença, corrigir mutações hereditárias ou inserir genes protetores. O efeito ocorre em nível molecular para impedir que os neurônios morram.

A grande maioria desses tratamentos segue em testes e, mesmo se mostrando promissoras, devem demorar alguns anos para serem aprovadas e ainda mais tempo para serem disponibilizadas. Isso ocorre porque, além do fato de que pesquisas clínicas exigem testes rigorosos e demorados de segurança, o produto final é caro. 

 

Como a fisioterapia neurológica adulta impacta na qualidade de vida de uma pessoa com Alzheimer?

Enquanto a terapia farmacológica para cura segue em pesquisa e evolução, os pacientes contam com outras formas de tratamento. 

Além dos remédios já mencionados, os fisioterapêutas especialistas em transtornos neurológicos têm uma função essencial na qualidade de vida dos pacientes. 

Os exercícios fisioterapêuticos têm sido usados para melhorar o equilíbrio de idosos com doença de Alzheimer, reduzindo consequentemente o índice de quedas. [...] Portanto, o fortalecimento muscular e a melhoria cognitiva proporcionados pelo tratamento fisioterapêutico são de suma importância para a manutenção das capacidades físicas e mentais dos idosos. (Leal, Carvas Júnior & Vale)

Infográfico em português que apresenta os objetivos da fisioterapia neurológica para pacientes com Doença de Alzheimer, segmentado pelas fases inicial, intermediária e avançada.

Cada fase da doença tem seu próprio conjunto de técnicas, exercícios e objetivos, conforme a tabela a seguir:

 

Quais são os exercícios e objetivos da fisioterapia para pacientes em cada fase do Alzheimer?

Fase da Doença

Tipos de exercício

Objetivos 

Observações 

Fase inicial

Exercícios aeróbicos (caminhada 30 min/dia, bicicleta);

Musculação e Pilates;

Hidroginástica;

Exercícios de dupla tarefa (motoras + cognitivas);

Retardar progressão cognitiva e motora;

Manter função respiratória;

Estimular socialização;

Frequência: 2-3x/semana;

Priorizar atividades em grupo;

Combinar exercícios físicos e cognitivos;

Fase intermediária

Circuitos de marcha com obstáculos;

Exercícios de equilíbrio em superfícies instáveis;

Hidroterapia;

Alongamentos assistidos;

Preservar autonomia em AVDs;

Prevenir quedas e fraturas;

Manter amplitude articular;

Adaptar exercícios às limitações cognitivas;

Introduzir auxílio de dispositivos;

Sessões mais curtas e frequentes;

Fase Avançada

Mobilizações passivas;

Alongamentos suaves;

Estimulação sensorial (toque, posicionamento);

Uso de TENS e termoterapia;

Prevenir atrofia muscular;

Manter higiene postural;

 Evitar úlceras por pressão;

Sessões diárias;

Priorizar conforto e redução de dor;

Envolver cuidadores no processo;

 

Qual a eficácia da fisioterapia neurofuncional no tratamento de pacientes com demência degenerativa?

Em questão de resultados, várias pesquisas atuais comprovam a eficácia de se utilizar técnicas de reabilitação neurológica no tratamento e prevenção de Alzheimer: 

● "A prática de exercícios orientados por fisioterapeutas associou-se com menor prevalência e incidência de demência (32%), bem como de declínio cognitivo." (Simpósio Internacional de Ciências Integradas da UNAERP)

● Programas que combinam exercícios de equilíbrio, força e coordenação promovem uma redução de 20% a 30% no risco de quedas, segundo publicações da National Library of Medicine e da PubMed;

● Pacientes com Alzheimer submetidos a intervenções físicas regulares apresentam um aumento de 15% a 25% em testes de função executiva, como atenção, planejamento e controle inibitório, de acordo com dados da Biomed Central;

● Exercícios resistidos contribuem para o aumento de 8% a 12% na densidade óssea em idosos — efeito que também se aplica a pacientes com Alzheimer, ajudando a prevenir fraturas e promover maior independência funcional – segundo artigo publicado na Researchgate.

 

A fisioterapia neurológica é uma carreira promissora? Como me especializar?

A fisioterapia neurológica tem um papel essencial no tratamento da Doença de Alzheimer. Com a reabilitação, é possível aos pacientes em qualquer fase da doença preservar funções motoras, estimular a autonomia, manter interações sociais essenciais e melhorar a qualidade de vida significativamente.

Para que esse objetivo seja alcançado, é fundamental os exercícios e técnicas sejam feitar com orientação profissional correta. Um fisioterapeuta precisa estar preparado não apenas para adaptar a reabilitação de acordo com a evolução do quadro clínico, mas também para obter resultados reais e prezar pela saúde física e mental de seus pacientes e de seus familiares.

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Referências Bibliográficas

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

ESTUDOS CLÍNICOS E REVISÕES

PLATAFORMAS DE PESQUISA E REVISÃO SISTEMÁTICA

REVISÕES SOBRE DENSIDADE ÓSSEA

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