O sono é um elemento fundamental para o desenvolvimento humano, influenciando diretamente a maneira como crianças e adultos absorvem, processam e retêm conhecimento. 

Enquanto dormimos, o cérebro trabalha ativamente para consolidar memórias, organizar informações e preparar o corpo para novos desafios cognitivos. No entanto, em um mundo marcado por rotinas aceleradas e excesso de estímulos, a qualidade do sono tem sido frequentemente negligenciada, impactando não apenas a saúde, mas também o desempenho educacional.

Neste artigo, vamos entender os mecanismos científicos por trás desse processo, estratégias práticas para melhorar a qualidade do descanso e como a neuroeducação está revolucionando a forma como educadores abordam o ensino. 

Como funciona o processo de aprendizado?

O processo de aprendizado envolve três etapas principais: aquisição, consolidação e recuperação. 

A aquisição é o momento em que o indivíduo capta informações do ambiente, seja por meio de leituras, observação, prática ou outros métodos. Esse processo ocorre predominantemente durante o período em que estamos acordados, ou seja, na vigília. 

No entanto, para que essas informações sejam efetivamente armazenadas e transformadas em conhecimentos duradouros, é essencial a etapa de consolidação, que acontece durante o sono.

Durante o sono REM (movimento rápido dos olhos), o cérebro realiza um verdadeiro trabalho de reprocessamento. Ele revisita as informações adquiridas ao longo do dia, fortalecendo as conexões sinápticas, que são essenciais para a memória e para a retenção de conhecimento.

Além disso, nesse estágio, o cérebro elimina dados irrelevantes, garantindo que o espaço cognitivo seja utilizado para armazenar aquilo que realmente importa.

Nesse sentido, quando alguém está aprendendo um novo idioma, pode perceber que uma noite de sono adequada melhora sua retenção de vocabulário e estrutura gramatical, aumentando significativamente sua capacidade de incorporar esse novo conhecimento. 

Diferença entre adultos e crianças aprendendo

O sono desempenha um papel fundamental para o aprendizado e o funcionamento do cérebro, tanto em crianças quanto em adultos, embora as necessidades e os desafios enfrentados por cada grupo variem. 

Em crianças, o cérebro em formação apresenta uma neuroplasticidade acelerada, o que demanda de 10 a 14 horas de sono por dia, dependendo da idade. Esse período é essencial para que habilidades motoras e linguísticas sejam consolidadas de maneira eficiente. 

No entanto, as crianças são particularmente sensíveis a distúrbios do sono, e a privação de descanso adequado está associada a problemas como hiperatividade, baixo desempenho escolar e, em alguns casos, até atrasos no crescimento físico. 

Esses atrasos podem ocorrer devido à diminuição na produção do hormônio do crescimento (GH), que é secretado em maior quantidade durante o sono profundo.

Por outro lado, os adultos possuem diferentes demandas e enfrentam desafios específicos. Para manter a eficiência cognitiva, é recomendado que adultos durmam entre 7 e 9 horas por noite. 

Contudo, fatores como estresse e a realização simultânea de várias tarefas podem fragmentar o sono profundo, etapa indispensável para a consolidação de memórias de longo prazo. 

Além disso, embora a aprendizagem em adultos seja geralmente mais focada em objetivos e metas específicas, ela se torna mais vulnerável a déficits de atenção quando não há um descanso adequado, afetando diretamente sua capacidade de absorver e reter novos conhecimentos.

                                                                                    Entenda como o sono influencia a memória, atenção e aprendizado em crianças e adultos, e confira dicas para otimizar o desempenho cognitivo por meio do descanso.

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Etapas do sono e importância de dormir o suficiente

O sono é composto por quatro fases cíclicas, cada uma desempenhando funções específicas que são vitais para o corpo e para o cérebro.

Fase 1 (NREM) 

Essa é a etapa inicial, uma transição entre estar acordado e começar a dormir. Dura de 5 a 10 minutos e é caracterizada por uma leve diminuição da atividade cerebral e muscular. 

É nesse momento que o corpo começa a relaxar, com os olhos podendo fazer movimentos lentos e aleatórios. Por ser uma fase muito leve, é fácil ser despertado nesse estágio, e muitas vezes as pessoas nem percebem que estão adormecendo.

Fase 2 (NREM)  

Aqui, ocorre um relaxamento maior dos músculos e uma redução significativa da frequência cardíaca e respiratória. Essa fase constitui cerca de metade do sono total e funciona como uma preparação para estágios mais profundos. 

Assim, o corpo entra em um estado de descanso mais consolidado, enquanto o cérebro reduz sua atividade, embora ainda apresente breves explosões de atividade chamadas "fusos do sono", que ajudam na proteção contra estímulos externos e na manutenção do sono.

Fase 3 (NREM) 

Também conhecida como sono profundo, essa etapa é indispensável para a saúde física e mental. É durante esse estágio que ocorrem processos de reparação celular, onde os tecidos se regeneram e o sistema imunológico é fortalecido. 

Além disso, há uma maior liberação do hormônio do crescimento (GH), especialmente importante para crianças, adolescentes e para a recuperação de adultos. Essa fase é essencial para restaurar energias e promover um descanso físico completo.

Fase REM 

A última fase do ciclo de sono é marcada por uma ativação cerebral semelhante à vigília, ou seja, o cérebro está altamente ativo. Essa etapa representa entre 20% e 25% do tempo total de sono e é indispensável para o aprendizado e a criatividade. 

Durante o sono REM, ocorrem sonhos vívidos e o cérebro trabalha na consolidação de memórias e no processamento de informações adquiridas ao longo do dia. Essa fase também está associada ao desenvolvimento emocional e à resolução de problemas criativos.

 

Essas fases se repetem em ciclos ao longo da noite, cada uma desempenhando um papel único para garantir o equilíbrio entre o corpo e a mente. Esse ciclo completo é indispensável para manter a saúde e o bem-estar.

Dicas práticas para melhorar a qualidade do sono

Manter uma rotina consistente é fundamental para melhorar a qualidade do sono. Estabelecer horários fixos para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana, contribui para a regulação do ciclo sono-vigília, beneficiando tanto crianças quanto adultos. 

No caso das crianças, incluir rituais antes de dormir, como ler histórias ou ouvir música calma, pode ajudar a criar um ambiente propício ao relaxamento e facilitar o adormecer.

Além da rotina, o ambiente também desempenha um papel importante. Quartos escuros, com o auxílio de cortinas blackout, e silenciosos são ideais para o descanso. Uma temperatura confortável, variando entre 18°C e 22°C, favorece o relaxamento do corpo e proporciona um sono mais reparador.

Outro fator relevante é o uso de dispositivos eletrônicos. A luz azul emitida por telas de celulares, tablets e computadores pode suprimir a produção de melatonina, o hormônio responsável por induzir o sono. 

Por isso, é recomendável evitar o uso desses dispositivos pelo menos duas horas antes de dormir, permitindo que o corpo entre em um estado de relaxamento mais natural.

A alimentação noturna também merece atenção especial. Consumir cafeína e alimentos ricos em açúcar à noite pode dificultar o processo de adormecer, enquanto opções mais leves e relaxantes, como chá de camomila ou banana, podem ser excelentes aliados. 

A banana, por exemplo, é rica em triptofano, um aminoácido que ajuda na produção de serotonina, contribuindo para um sono mais tranquilo. Esses hábitos, quando integrados, podem transformar significativamente a qualidade do descanso.

Como aplicar isso na neuroeducação?

A neuroeducação, que combina conhecimentos da neurociência e da pedagogia, busca otimizar o ensino por meio de estratégias baseadas na compreensão do funcionamento do cérebro. 

Entre essas estratégias estão os cronogramas inteligentes, que organizam aulas mais desafiadoras no período da manhã, quando a capacidade de atenção dos alunos está em seu ponto mais alto. Além disso, intervalos para cochilos de 20 a 30 minutos nas escolas têm se mostrado eficazes, aumentando a retenção de informações.

Outro pilar essencial é a educação parental, que visa conscientizar os pais sobre a importância do sono na formação acadêmica das crianças. Workshops específicos podem abordar, por exemplo, dados que demonstram que crianças com uma rotina consistente de sono têm mais chances de alcançar o sucesso escolar.

A formação de professores também desempenha um papel crucial nesse contexto. Cursos especializados, como pós-graduações a distância (EAD) em neuroeducação, oferecem técnicas para adaptar currículos aos ritmos circadianos dos alunos, contribuindo para um aprendizado mais eficaz e personalizado.

Por fim, o uso de tecnologia adaptativa complementa essas iniciativas. Aplicativos como o SleepCycle são exemplos práticos que ajudam estudantes a monitorar seus padrões de sono, fornecendo sugestões personalizadas para ajustes e, assim, potencializando tanto a qualidade do descanso quanto o desempenho escolar.

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