Respirar não deveria ser um risco. No entanto, milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam diariamente uma ameaça invisível e involuntária: o fumo passivo. Esta exposição silenciosa à fumaça do tabaco em lares, locais de trabalho e espaços públicos, carrega consequências que vão muito além dos conhecidos danos pulmonares. O fumo passivo é responsável por aproximadamente 1,3 milhão de mortes anuais no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023). No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que, pela primeira vez em quase 20 anos, houve aumento no número de fumantes, elevando também o risco para os não fumantes expostos à fumaça.

Essa ameaça invisível, como já mencionado, não afeta apenas pulmões e coração. Pesquisas científicas demonstram que o fumo passivo está associado a danos renais significativos, com mecanismos que envolvem lesão vascular, estresse oxidativo e inflamação crônica. Este artigo explora essa conexão pouco discutida, mas cientificamente comprovada, entre a exposição involuntária ao tabaco e o desenvolvimento de doenças renais. Proteger os rins começa pelo ar que compartilhamos.

O que é fumo passivo

Criança usando máscara facial e cobrindo o nariz com as mãos, enquanto um adulto próximo segura um cigarro aceso, com fumaça visível se espalhando no ar.

O fumo passivo, também chamado de tabagismo involuntário, ocorre quando não fumantes inalam a fumaça liberada por cigarros, charutos ou dispositivos eletrônicos, sendo uma exposição altamente prejudicial à saúde. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o fumo passivo é a inalação involuntária da fumaça de produtos derivados do tabaco, composta por:

  • Fumaça lateral (85%): sai diretamente da ponta acesa do cigarro, com alta concentração de toxinas.
  • Fumaça exalada (15%): proveniente dos pulmões do fumante.

O gravidade do cenário se intensifica diante do cenário atual: de acordo com o Ministério da Saúde, é a primeira vez, em quase 20 anos, que o Brasil tem um aumento no número de fumantes. O aumento no numero de fumantes ativos representam consequentementem um aumento no número de fumantes passivos. 

A OMS classifica a poluição tabagística ambiental como a **terceira maior causa de morte evitável no mundo**.

Porque o fumo passivo representa risco à saúde

A composição do fumo passivo inclui mais de 7.000 substâncias químicas, sendo que 70 delas são cancerígenas - como arsênico, benzeno e cromo. Além disso, a nicotina presente na fumaça passiva é três vezes mais concentrada do que na ativa, intensificando os danos à saúde

Outro fator preocupante é a presença de monóxido de carbono, que pode reduzir a oxigenação sanguínea após uma hora de exposição, agravando riscos cardiovasculares e respiratórios.

Os locais de maior risco incluem residências onde há fumantes, sendo essa a principal fonte de exposição para crianças, além de ambientes de trabalho sem regulamentação, como bares e cassinos, onde a inalação da fumaça pode ser contínua. Também representam perigo veículos e espaços públicos sem legislação antifumo, contribuindo para uma exposição involuntária e prejudicial à população.

Efeitos no organismo

O fumo passivo provoca impactos imediatos e graves no sistema cardiovascular e respiratório, não importa a quantidade de fumaça inalada.  Os efeitos, no entanto, podem variar de acordo com o tempo de exposição:

  • Aumento da pressão arterial e frequência cardíaca em apenas 20 minutos.
  • Irritação das vias aéreas e crises de asma após 2 horas.
  • Redução da capacidade pulmonar em 5 horas de exposição.

Alguns grupos são especialmente vulneráveis aos efeitos do fumo passivo. Em crianças, por exemplo, a exposição está associada a otites recorrentes, asma e maior risco de morte súbita infantil, sendo que o risco dessa última condição pode ser duas vezes maior em ambientes onde há tabagismo. 

Já para gestantes, o fumo passivo aumenta a chance de parto prematuro, além de comprometer o crescimento fetal. No caso dos idosos, a inalação contínua da fumaça intensifica sintomas de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e piora a função endotelial, levando a um aumento na incidência de infartos em pacientes coronarianos. Diante da estatistica da Pfizer Brasil - segundo a qual, adultos expostos ao fumo passivo podem inalar o equivalente a até quatro cigarros por dia - entende-se que o fumo passivo é um problema à saúde pública. 

“Não existe nível seguro de exposição à fumaça do tabaco. Mesmo curtas exposições podem causar danos imediatos à saúde.”

— Organização Mundial da Saúde, Relatório sobre a Epidemia Global do Tabagismo, 2023.

Impactos renais do fumo passivo

O Ministério da Saúde destaca que a exposição à fumaça do tabaco contribuRadiografia da coluna lombar e região abdominal mostrando, à direita, uma área avermelhada que destaca alterações no rim, sugerindo inflamação ou comprometimento da função renal.i para doenças crônicas não transmissíveis, incluindo complicações renais. Entre os efeitos fisiopatológicos identificados em estudos estão em mecanismos fisiopatológicos que envolvem lesão vascular, estresse oxidativo glomerular e fibrose tubulointersticial. A nicotina, por exemplo, é uma das maiorias vilãs nesse provesso, com consequências no sistema cardiorespiratório, dentre outros:

  • Lesão vascular: o que implica em espessamento na túnica média das artérias renais, além de reduzir o fluxo sanguíneo renal cortical.
  • Estresse oxidativo: causado por metais pesados como cádmio e chumbo, leva à degeneração dos podócitos, células essenciais para a filtragem renal, resultando em uma redução na densidade glomerular após exposição crônica.
  • Fibrose tubulointersticial: efeito deletério que promove um aumento na deposição de colágeno no córtex renal, comprometendo a estrutura dos rins. Além disso, há uma elevação preocupante nos níveis de creatinina sérica, que podem atingir 1,8±0,3 mg/dL, em comparação aos 0,7±0,2 mg/dL em indivíduos não expostos.

 

Um estudo publicado na Clinical Journal of the American Society of Nephrology (2022) concluiu que não fumantes expostos ao fumo passivo têm risco 34% maior de desenvolver doença renal crônica.

Comparativo de indicadores clínicos entre não fumantes expostos e não expostos

Indicador clínico Não fumantes expostos Não fumantes não expostos
Níveis médios de creatinina sérica 1,8 ± 0,3 mg/dL 0,7 ± 0,2 mg/dL
Taxa de filtração glomerular (TFG) 68 mL/min 92 mL/min
Incidência de proteinúria 23% 9%

 

O fumo passivo é um grave risco renal, aumentando as chances de doença renal crônica (DRC). Trabalhadores de bares/cassinos apresentam mais proteinúria e redução acelerada na filtração glomerular. Em diabéticos, acelera a progressão para diálise, e em hipertensos, eleva o risco de estenose renal.

Fatores como genética e disparidades raciais amplificam os danos, com afrodescendentes expostos apresentando um risco quatro vezes maior de DRC terminal.

Prevenção e papel dos profissionais

O controle do fumo passivo é uma estratégia de saúde pública que exige atuação coordenada entre governo, sociedade civil e profissionais da saúde. A legislação antifumo brasileira, reconhecida como uma das mais avançadas do mundo, reduziu significativamente a exposição em ambientes públicos fechados. No entanto, a OMS alerta que a maior parte da exposição ocorre em residências e veículos, onde a fiscalização é limitada e a conscientização é o principal recurso de proteção.

Do ponto de vista clínico, o rastreamento da função renal em pessoas expostas ao fumo passivo deve ser incorporado às rotinas de atendimento, especialmente para populações vulneráveis. A análise periódica de indicadores como creatinina sérica, taxa de filtração glomerular (TFG) e presença de proteinúria pode identificar alterações precoces, permitindo intervenção antes da evolução para doença renal crônica. Esses parâmetros, apresentados na tabela anterior, evidenciam diferenças clínicas significativas entre expostos e não expostos.

Além disso, campanhas educativas baseadas em evidências desempenham papel essencial. Profissionais da saúde podem orientar famílias sobre como eliminar fontes de exposição no ambiente doméstico, incluir a temática em ações de promoção de saúde e reforçar que não existe nível seguro de exposição à fumaça do tabaco. A educação contínua, combinada a políticas públicas e à triagem clínica, forma um tripé preventivo que protege a função renal e reduz o impacto de longo prazo da poluição tabagística ambiental.

  • Políticas públicas: reforço das leis antifumo e fiscalização em ambientes fechados.
  • Campanhas educativas: conscientização sobre riscos em casa, veículos e locais de trabalho.
  • Rastreamento clínico: monitoramento da função renal em grupos vulneráveis.

“Profissionais de saúde têm papel fundamental na detecção precoce dos danos causados pelo fumo passivo, especialmente entre grupos de risco como crianças e portadores de doenças crônicas.”

— Ministério da Saúde, 2023.

Conclusão

O fumo passivo é um fator de risco subestimado para a doença renal crônica, com mecanismos que envolvem desde lesão vascular até apoptose de podócitos, essenciais na filtragem renal. Estudos indicam que não fumantes expostos apresentam um risco renal semelhante ao de fumantes leves, destacando a gravidade dessa exposição.

Entre os desafios persistentes, o subdiagnóstico é preocupante, já que grande parte dos casos de DRC induzida pelo fumo passivo permanecem assintomáticos nos estágios iniciais, dificultando o tratamento precoce. 

Para enfrentar esse problema, investir na capacitação profissional é essencial. A Especialização em Enfermagem em Nefrologia oferece módulos em toxicologia renal e estratégias de prevenção primária, preparando você para atuar na detecção precoce e proteção dos grupos de risco. 

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Perguntas Frequentes (FAQ)

O que é fumo passivo?
É a inalação involuntária da fumaça de produtos de tabaco por não fumantes, contendo milhares de substâncias tóxicas.

Quais os riscos para os rins?
Lesões vasculares, estresse oxidativo e fibrose, aumentando a chance de doença renal crônica.

Quem é mais vulnerável?
Crianças, idosos, gestantes, diabéticos e hipertensos.

Existe nível seguro de exposição?
Não. A OMS afirma que qualquer exposição pode ser prejudicial.

Como prevenir?
Evitar ambientes com fumaça de tabaco, aplicar leis antifumo e realizar monitoramento clínico.

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