A obesidade é um desafio global que afeta milhões de pessoas, impactando não apenas a saúde física, mas também a qualidade de vida e a autoestima. Diante desse cenário, a cirurgia bariátrica surge como uma opção para casos graves.
Ela ajuda pacientes a recuperarem o controle sobre seu peso e reduzir riscos de doenças associadas, como diabetes e hipertensão. No entanto, esse procedimento não é uma solução isolada: envolve decisões complexas, uma preparação rigorosa e comprometimento vitalício com novos hábitos.
Neste artigo, vamos entender como a cirurgia bariátrica funciona, quem pode se beneficiar dela, os cuidados necessários antes e depois do procedimento e os desafios nutricionais que acompanham essa jornada. Vamos desvendar, juntos, o que é essencial saber sobre essa ferramenta poderosa no combate à obesidade.
O que é uma cirurgia bariátrica?
A obesidade é um problema de saúde pública, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 26,8% dos brasileiros adultos estão obesos. Nesse sentido, a cirurgia bariátrica é um conjunto de técnicas cirúrgicas que visam reduzir o peso corporal e tratar comorbidades associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão.
Os principais tipos de cirurgia bariátrica incluem o bypass gástrico, a gastrectomia vertical e a banda gástrica ajustável, cada qual com características e objetivos específicos.
O bypass gástrico é um procedimento que reduz o tamanho do estômago, tornando-o significativamente menor, além de desviar uma parte do intestino delgado, o que limita a absorção de nutrientes e contribui para uma perda de peso mais rápida.
Já a gastrectomia vertical, conhecida também como sleeve gástrico, consiste na remoção de cerca de 80% do estômago, reduzindo sua capacidade e, consequentemente, a quantidade de alimentos ingeridos, ajudando o paciente a sentir saciedade mais rapidamente.
Por outro lado, a banda gástrica ajustável é uma técnica menos invasiva que envolve a colocação de uma banda inflável ao redor da parte superior do estômago, criando uma espécie de bolsa que controla a ingestão de alimentos de forma gradual, sendo ajustada conforme necessário.
De acordo com informações da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), é normal que o paciente ganhe entre 5% e 10% do peso após cerca de dois anos da realização da cirurgia bariátrica.
No entanto, é importante ressaltar que o sucesso a longo prazo depende de uma série de fatores, como a adoção de mudanças comportamentais, o comprometimento com a prática de atividades físicas regulares e o acompanhamento contínuo com profissionais de saúde.
Isso inclui nutricionistas e psicólogos, para garantir que a perda de peso seja sustentável e que a saúde geral do indivíduo seja preservada. A cirurgia, portanto, não é uma solução isolada, mas sim parte de um processo que requer esforço e adesão a um estilo de vida saudável.
Quanto custa?
O valor da cirurgia bariátrica no Brasil varia conforme o tipo de procedimento e a região onde é realizada. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o procedimento é gratuito, mas os pacientes precisam lidar com uma fila de espera que pode chegar a até dois anos, dependendo da demanda local.
Já no sistema particular, os custos variam entre R$ 30 mil e R$ 80 mil, conforme a complexidade da cirurgia e os honorários médicos. Nos planos de saúde, a cirurgia é coberta para os pacientes que atendem aos critérios definidos pelo Ministério da Saúde, como um Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 40, ou maior que 35 quando associado a comorbidades, como diabetes ou hipertensão.
No entanto, há regiões onde a falta de estrutura para o acompanhamento pós-operatório aumenta os riscos de complicações, destacando a necessidade de melhorias e investimentos nesse aspecto do atendimento à saúde.
Em que casos a bariátrica é recomendada?
A cirurgia bariátrica é amplamente indicada para pacientes que apresentam um Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 40, uma condição classificada como obesidade grau III, que está associada a altos riscos para a saúde devido às complicações da obesidade severa.
Ela também é recomendada para indivíduos com IMC igual ou maior que 35, desde que apresentem doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, apneia obstrutiva do sono ou hipertensão, que podem ser potencialmente reduzidas ou controladas após o procedimento.
Além disso, a cirurgia é uma opção para pacientes que não obtiveram resultados satisfatórios em tratamentos clínicos convencionais por um período de dois anos, como dietas, exercícios físicos e terapias medicamentosas, sem resultados sustentáveis na perda de peso.
No entanto, existem contraindicações que devem ser observadas com cuidado. Mulheres grávidas, pacientes com transtornos psiquiátricos não controlados, como esquizofrenia ou transtorno bipolar, e aqueles que fazem uso abusivo de álcool ou substâncias psicoativas não são considerados candidatos ideais para o procedimento, devido aos riscos aumentados de complicações.
A avaliação psicológica é uma etapa indispensável antes da cirurgia. Ela permite identificar possíveis problemas emocionais ou transtornos psicológicos que possam influenciar os resultados pós-operatórios.
Sem o acompanhamento psicológico adequado, os pacientes podem desenvolver depressão após a cirurgia, o que reforça a necessidade de um suporte multidisciplinar contínuo para garantir tanto o sucesso do procedimento quanto o bem-estar mental do paciente.
Quais são os cuidados antes da cirurgia?
A preparação para a cirurgia bariátrica é um processo essencial que envolve diversas etapas destinadas a garantir a segurança do procedimento e o melhor resultado possível.
Inicialmente, o paciente passa por uma avaliação multidisciplinar, contando com profissionais como endocrinologista, nutricionista, psicólogo e cardiologista. Essa equipe tem o papel de avaliar a saúde geral do paciente, diagnosticar possíveis riscos e orientar sobre mudanças comportamentais e alimentares necessárias.
Além disso, é fundamental aderir a uma dieta pré-operatória específica, geralmente rica em proteínas e com baixo teor de carboidratos. Esse tipo de alimentação tem como principal objetivo reduzir o tamanho do fígado, uma medida que facilita a realização da cirurgia e minimiza riscos durante o procedimento.
Exames laboratoriais são igualmente importantes na preparação. Eles incluem a dosagem de vitaminas, glicemia e avaliação da função hepática, para identificar eventuais deficiências ou condições que demandem atenção antes da operação.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), pacientes que seguem adequadamente a dieta pré-operatória apresentam uma redução considerável no risco de complicações intraoperatórias, destacando o impacto positivo de uma preparação bem conduzida na segurança e eficácia da cirurgia. Esses cuidados ajudam a estabelecer uma base sólida para a recuperação e para os resultados a longo prazo.
Quais são os cuidados depois da cirurgia?
O período pós-operatório da cirurgia bariátrica demanda uma série de cuidados importantes para assegurar uma recuperação adequada e o sucesso do procedimento a longo prazo. A dieta é dividida em fases progressivas, que começam com a fase líquida na primeira semana após a cirurgia.
Durante esse período, o paciente deve consumir apenas caldos e sucos sem adição de açúcar, garantindo uma fácil digestão e evitando sobrecarregar o sistema gastrointestinal. Em seguida, entre a segunda e a quarta semana, inicia-se a fase pastosa, que inclui alimentos como purês e carnes desfiadas, permitindo uma transição gradual para texturas mais consistentes.
A partir do segundo mês, o paciente pode progredir para a fase sólida, que dá prioridade ao consumo de alimentos integrais e proteínas magras, essenciais para a recuperação e manutenção da saúde.
A suplementação de nutrientes é obrigatória e deve incluir ferro, cálcio, vitamina B12 e vitamina D, devido à redução da capacidade do organismo em absorver esses nutrientes após a cirurgia. Além disso, a prática de atividade física desempenha um papel fundamental no processo de recuperação.
Recomenda-se que os pacientes comecem com caminhadas leves após 30 dias do procedimento, promovendo gradualmente uma melhora na mobilidade e no bem-estar geral.
Um ponto de atenção é o risco de "síndrome de dumping" caso alimentos ricos em açúcar ou gordura sejam consumidos precocemente.
Essa condição pode causar sintomas desagradáveis, como náuseas, sudorese excessiva e diarreia, reforçando a necessidade de adesão às orientações dietéticas e ao acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. O cuidado e a disciplina nesse período são fundamentais para o sucesso da adaptação e a melhoria na qualidade de vida do paciente.
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Dieta antes e depois da cirurgia bariátrica
Durante o período pré-operatório, é fundamental adotar uma dieta rica em proteínas, como ovos e peixes, que são essenciais para preservar a massa muscular, especialmente em pacientes que passarão por perda de peso significativa após a cirurgia.
Além disso, é recomendado evitar o consumo de refrigerantes e alimentos ultraprocessados, que podem causar inflamações e dificultar o preparo do organismo para o procedimento.
Já no período pós-operatório, o foco principal é atender às novas demandas nutricionais do corpo. Durante o primeiro ano, é essencial priorizar a ingestão diária de 60 a 80 gramas de proteínas, que ajudam na cicatrização e na manutenção da massa magra.
Outra orientação importante é evitar ingerir líquidos durante as refeições, pois isso pode distender o estômago, comprometendo os resultados do procedimento e dificultando a saciedade.
Como prevenir a obesidade?
Estratégias comprovadas para o controle do peso e a promoção de uma vida mais saudável envolvem uma abordagem multifacetada que inclui alimentação, atividade física e apoio psicológico.
Nesse sentido, a adoção de uma alimentação balanceada é essencial, priorizando o consumo de frutas, vegetais e grãos integrais, que fornecem nutrientes essenciais e ajudam a manter a saciedade.
Além disso, a prática regular de exercícios físicos é altamente recomendada, com a meta de realizar ao menos 150 minutos por semana de atividades moderadas, como caminhadas, ciclismo ou natação, promovendo benefícios tanto para o corpo quanto para a mente.
O acompanhamento psicológico também desempenha um papel fundamental, especialmente no tratamento de comportamentos compulsivos relacionados à alimentação. Esse suporte ajuda os pacientes a desenvolverem estratégias para lidar com gatilhos emocionais e a manterem hábitos saudáveis de forma sustentável.
Conclusão
A cirurgia bariátrica representa uma ferramenta poderosa no enfrentamento da obesidade, especialmente em casos graves onde outras abordagens não trouxeram resultados satisfatórios.
No entanto, ela deve ser compreendida como parte de um processo multidimensional, que envolve preparação minuciosa, escolhas conscientes e dedicação constante a um estilo de vida mais saudável.
O sucesso a longo prazo requer não apenas o procedimento cirúrgico, mas também uma reeducação alimentar, acompanhamento psicológico e prática de atividades físicas regulares. Além disso, o suporte de uma equipe multidisciplinar com especialização em obesidade é indispensável para abordar os aspectos físicos, nutricionais e emocionais que acompanham essa jornada.
Embora os desafios sejam consideráveis, os benefícios, como a melhora na saúde geral e na qualidade de vida, superam os obstáculos para muitos pacientes. Com responsabilidade, informação e apoio adequado, a cirurgia bariátrica pode ser um marco transformador na vida daqueles que a buscam, contribuindo para um futuro mais saudável e equilibrado.